sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Entrevista com Fisiologista do time do São Paulo - Exercícios físicos, quando começar?

Entrevista com Dr. Turíbio Leite de Barros Neto

O médico fisiologista Turíbio Leite de Barros Neto, do São Paulo Futebol Clube, é um dos profissionais mais respeitados em sua área de atuação. Nesta entrevista exclusiva , ele aborda as atividades físicas e os benefícios que delas podemos extrair.

Qual é a melhor idade para iniciar atividades físicas?

Essa pergunta na minha infância e talvez na dos leitores que estão na faixa dos quarenta anos não teria razão de ser. Trinta anos atrás não se falava na necessidade da criança fazer esporte. Naquela época, a atividade esportiva, que eu prefiro chamar de atividade física, era uma coisa absolutamente espontânea, até porque a criança tem, por natureza, uma atividade física espontânea. Antigamente, essa espontaneidade se manifestava nas brincadeiras ativas, que por serem atividades físicas completas satisfaziam plenamente as necessidades da criança.

Hoje, com os espaços diminuindo...

Sim, tanto o espaço a que a criança está restrita - às vezes dentro da casa onde mora, muitas vezes um apartamento pequeno com uma área comum que é um playground minúsculo - como a falta de espaços como os que tínhamos antigamente, árvores para subir, terrenos baldios para jogar futebol. Além disso, temos a insegurança de a criança poder sair na rua para brincar com os amigos como se fazia antigamente.

Era o contrário do que temos hoje.

Lembro que naquela época a preocupação que minha mãe tinha era que eu fizesse exercício em excesso. Hoje, temos uma situação completamente invertida, e a criança é uma vítima disso. Por isso, é necessário estimulá-la a praticar uma atividade física e isso é visto hoje, muitas vezes, como uma verdadeira obrigação do pai e do educador. Assim, a questão da idade ideal não deve ser vista de uma maneira rígida porque, apesar daquela espontaneidade talvez não ser mais possível, o que é absolutamente necessário é que a criança manifeste a sua preferência.

O que acaba acontecendo...

Não há dúvida nenhuma de que a criança sempre escolhe aquilo para o qual ela se sente mais inclinada. Em nenhuma hipótese a criança dirá "quero praticar tal esporte" e o pai ou educador consultará uma tabela ou obra de referência que dirá "não, pela sua idade isso é incompatível".

Por quê?

Porque, por intuição, ela obedece a uma regra básica que é a relação entre o desenvolvimento neuromotor e a habilidade específica para as diferentes formas de atividade física. Isso é muito mais importante que a idade cronológica. Um garoto de cinco anos pode jogar tênis? Não, porque ele ainda não tem a habilidade neuromotora para tanto. Assim, essa é uma opção de que ele não dispõe naquele momento, mas de que poderá vir a dispor mais tarde, sempre dentro desse conceito do desenvolvimento neuromotor.

Existe algum tipo de anomalia física que pode ser evitada através de exercícios e nutrição adequados?

Bem, a relação entre o exercício físico e a nutrição para um desenvolvimento saudável é uma coisa absolutamente provada, imperativa. Isto é, hoje se considera unanimemente que a orientação mais sensata para a saúde da criança é a que defende uma boa nutrição e atividades físicas regulares.

E o que isso pode evitar?

Bom, na maioria das vezes, a possibilidade da criança contar com uma dieta adequada e com atividades físicas é, sem dúvida nenhuma, um escudo de proteção para a grande maioria dos problemas que uma criança está sujeita a ter. Na verdade, isso cria um verdadeiro círculo vicioso de vida saudável, o que é talvez mais importante no sentido de se fazer um investimento para a saúde futura. O crescimento se faz de maneira saudável, apesar de que é importante lembrar que nenhum programa de exercícios faz crescer, ele simplesmente possibilita um crescimento saudável através da atividade física. Por outro lado, nenhum exercício - a não ser que se cometam exageros absurdos - inibe o crescimento.

E quanto à natação? Ela é recomendável em qualquer idade?

Sem dúvida nenhuma podemos dizer que a natação é o esporte mais completo, como, aliás, se costuma divulgar. Mas eu acho que existe um pouco de exagero quando se fala em natação para o bebê. Parece-me que hoje já se vê isso com mais reserva do que se via numa época em que se tornou uma verdadeira febre. De repente, toda mãe achava que o bebê tinha que começar a nadar, porque é bonito, e pode parecer que se está desenvolvendo precocemente alguma coisa. Mas eu acho um pouco questionável.

Por quê?

Porque se mexe com algo sobre o qual a gente não tem muita certeza quanto às conseqüências que terá. Ninguém consegue saber o que se passa na cabeça de uma criança pequenina, quando está solta no meio líquido, sem contato físico, sem contato com o que chamamos de propriocepção (capacidade de receber estímulos originados no interior do próprio organismo), que são os sentidos do tato. Na verdade, o que dá uma enorme segurança para a criança é o contato físico, e até mesmo o contato com o solo; tanto que ela se inicia engatinhando para depois andar. Então, eu acho questionável a iniciação precoce na natação, pois não vejo nenhuma necessidade nem grande benefício nela. Acho que tudo tem o seu momento e, fundamentalmente, o que temos que seguir é a própria lei da natureza, quer dizer, o ser humano, o desenvolvimento de nossa espécie. Sabemos que somos seres terrestres, que adquirimos confiança e até mesmo personalidade em função do contato com o meio terrestre.

Quais são as anomalias físicas mais comuns?

As mais comuns são aquelas geralmente associadas aos distúrbios da nutrição. O raquitismo, e eventualmente até alguns problemas pulmonares, podem ser causados pela má alimentação. O problema pulmonar também decorre da falta de estímulo adequado ao desenvolvimento da caixa torácica e da musculatura respiratória. Para ambas, o exercício físico é sem dúvida nenhuma um estímulo fundamental e absolutamente imprescindível. De um modo geral, não existe nenhuma doença que seja provocada pela falta de exercício, a não ser que consideremos "doença" um crescimento não tão saudável quanto poderia ser.

E quanto às gestantes? Qual a importância do exercício físico para elas?

Existe um aspecto muito interessante nessa questão. Histórica e culturalmente, o exercício para a gestante é visto como um benefício visando somente o parto. Isso, sem dúvida, continua sendo verdadeiro, e com certeza deverá ser cada vez mais indicado. Mas o que existe de novo a esse respeito é que já existem algumas evidências bastante interessantes dos benefícios que a criança adquire em função dos exercícios da mãe durante a gestação.

Que evidências são essas?

Crianças nascidas de mães ativas durante a gravidez, e particularmente de mães que se engajavam em programas de atividades físicas com orientação adequada, têm um índice de saúde, o famoso índice de APGAR do recém-nascido, em níveis sempre superiores às crianças filhas de mães sedentárias. Esse é um tema que, sem dúvida, vai crescer muito em termos de interesse, pois quase certamente irá comprovar que quando a mãe está se exercitando, seja pedalando, nadando, fazendo hidroginástica ou caminhando, ao mesmo tempo em que seu organismo está se beneficiando disso, a fantástica lei da natureza assegura que a criança, lá dentro do ventre materno, também estará sendo estimulada de uma maneira talvez tão ou mais importante que o próprio organismo da mãe.

E quanto aos programas de exercícios e aparelhos que vemos na TV? Até que ponto eles são confiáveis?

O problema é a maneira comercial com que se explora o exercício. Muitas vezes vemos a divulgação de produtos, equipamentos, e orientações que não são adequados para a grande maioria das pessoas. Inclusive podemos dizer sem medo de errar que existe muita propaganda enganosa nessa área, tentando fazer o indivíduo acreditar que se conseguem grandes resultados com programas que exigem um mínimo de esforço, e às vezes até aconselhando pessoas iniciantes a fazerem exercícios pesados que, se não fizerem mal à saúde, na melhor das hipóteses farão com que o indivíduo se desestimule.

Por que isso acontece? Por que as pessoas se desestimulam?

Porque ao fazer um programa inadequado a sua condição física a pessoa sofre um verdadeiro choque de agressão ao seu corpo, e ficará disso um estímulo negativo que às vezes é suficiente para ela abandonar de vez a idéia de fazer atividade física. Então a questão da orientação adequada, eventualmente de uma avaliação física antes da indicação de um programa de treinamento, em determinados casos onde isso seja absolutamente necessário, são requisitos que hoje cada vez mais se tornam importantes.

Então, a orientação médica antes de qualquer programa de exercício é absolutamente indispensável.


Sim, isso é correto


Porque o exercício é tão importante? Quer dizer, porque devo fazê-lo, o que isso me traz de benefícios?

Ele é muito importante porque o exercício hoje é uma arma terapêutica, ou seja, ele combate e previne doenças, e sem dúvida nenhuma quando falamos de hábitos saudáveis, é um dos que mais devem ser estimulados, mas, quando malfeito, pode ser uma forma de agressão. E para evitarmos isso, a orientação adequada é a melhor maneira de conseguirmos o resultado ideal.

Transformar o exercício em hábito é uma tarefa fácil?

Será uma tarefa fácil se orientarmos o indivíduo para que faça o exercício que ele gosta de fazer. Não faça exercício como quem toma um remédio amargo ou uma vacina para alguma coisa, isto é, obtenha bem-estar e prazer ao fazer exercício, porque aí você terá inclusive uma alteração extremamente salutar da sua química cerebral. Isso muda realmente, o indivíduo ativo é mentalmente mais saudável, a tal ponto que, hoje, uma das armas terapêuticas mais importantes para determinados distúrbios de comportamento, como ansiedade, depressão e outros, é o exercício físico, que é receitado inclusive pelo psicoterapeuta e pelo psiquiatra.



Então, podemos dizer que a antiga máxima "Mens sana in corpore sano" do poeta latino Juvenal (60-140 d.C., Sátiras, x) continua válida hoje em dia?

Sem dúvida. O corpo são significa o corpo de um indivíduo ativo. A mente sã, a melhoria de um componente diretamente associado à saúde mental do indivíduo, que por sua vez está diretamente ligado ao conceito de vida saudável e ao conceito de ser feliz. Quer dizer, para você ser mentalmente saudável e feliz é preciso ter uma vida ativa. Isso se caracteriza não só pelos benefícios físicos que obtemos levando uma vida ativa e saudável, como pelos benefícios psíquicos. Hoje, essa frase deixou de expressar um conceito abstrato e se tornou um fato científico concreto, à medida que a atividade física nos proporciona essa mente sã e esse corpo são. Concluindo, esse conceito tão antigo da mente sã em corpo são é mais atual do que nunca.

"Não faça exercício como quem toma remédio amargo ou uma vacina para alguma coisa , isto é, obtenha bem-estar e prazer ao fazer exercício"


fonte:
http://www.alobebe.com.br/site/revista/reportagem.asp?Texto=19

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